quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Dia 02/12/2009 – Nada na vida é de graça


Desde que comecei a tomar a sibutramina, comecei a sentir uma secura horrível na boca. Terminava de tomar um copo de água, aquela sensação de sede já aparecia de novo. Li na bula e vi que esse realmente é uma das reações adversas das “balinhas”. Mas não sabia que isso traria uma conseqüência para a minha saúde. Foi durante um exame periódico do meu trabalho que a dentista me perguntou se eu estava tomando algum medicamento. Avisei que estava tomando sibutramina e que sentia, sim, secura na boca. Foi com alguns exames que ela viu: “é, essa diminuição da saliva acabou abrindo uma cavidade aqui.”

Ah, não, cárie não! Dentista não! Aquela salinha com música ambiente e o som atormentador de uma broquinha ao fundo. Pior ainda quando o barulho da broquinha sai da sala de recepção e vai parar dentro da sua boca!

Ela pediu que eu realizasse alguns raios-x, para mostrar à minha dentista e ela fazer as reparações necessárias. Como minha irmã estuda Odontologia, liguei para ela e perguntei se ela não tinha como me atender na faculdade.

- Claro, mana, aparece aqui às 15hs. Se você vier hoje à tarde, não tem custo.

Beleza! De graça até injeção na testa né?

Han, como se alguma coisa na vida viesse de graça. Cheguei no prédio da Odontologia, encontrei minha irmã vestindo um jaleco, um par de luvas e uma touquinha. Com ela, uma professora e umas seis pessoas.

- E aí?

- Opa, tudo! E essa gente toda?

- Cadeira de Radiologia. Vamos te usar de cobaia, por isso não te custo.

Devolvi os olhos para as órbitas. Quer dizer então que vai ter uma galera na minha volta enquanto eu tiro o raio-x? Ainda bem que dos meus dentes eu não sinto vergonha.

Os estudantes puseram em mim a proteção de chumbo (que me fez entender a expressão “isso aqui pesa que nem chumbo”) e me sentaram na cadeira. A professora disse:

- Já que a solicitação dela é para quatro dentes, cada um de vocês faz um.

Encarei o desafio. E me senti o verdadeiro boneco de testes. Até sabia que podia ser uma aberração de vez em quando, mas aí para ser objeto de estudo a coisa era bem diferente. Uma das meninas posicionou o filme nos meus molares. Fiquei lá, sentada na cadeira de dentista, com dois centímetros de maxilar empurrados para a frente, os dentes segurando uma abinha do material de raio-x, a cena mais linda de se ver. Os estudantes ali, homens e mulheres, encarando tudo com a maior naturalidade. Enquanto eles grudavam a cara nos meus dentes, como quem tenta encontrar o Wally em um livro, meus sentimentos se confundiam com a vergonha e uma quase incontrolável vontade de rir. A professora disse:

- Muito bem, como sabemos que o filme está bem posicionado?

Seguiu-se o silêncio.

- Vamos gente, vocês deviam saber disso. E o ângulo da máquina?.

O silêncio seguiu e as perguntas também. Os nomes que diziam, para mim, foram impronunciáveis. Não dá pra chamar as partes do rosto por “aquele ossinho em baixo do nariz” ou “aquele músculo que segura a boca”? A esta altura do campeonato, eu já estava começando a babar por ficar tanto tempo com a boca aberta. Empurravam minha cabeça para cima e para baixo, tentando arrumar o ângulo. Olhava para minha irmã e via que ela também estava louca para rir, como se por dentro ela estivesse se vingando de tudo que eu fiz para ela durante nossa infância.

Depois de quase uma hora, os raios-x foram tirados. Faltava ainda a radiografia de toda a arcada. Passei para outra salinha, com outro professor e outros estudantes, me olhando como se eu fizesse parte de uma exposição. “Tudo pelo bem da ciência”, eu pensei.

Os raios-x ficaram prontos e foram entregues, não sem antes uma explicação da professora para os alunos sobre a cárie enorme que se alojara no meu dente. E a liçãozinha de moral da minha irmã que: eu estava com uma cárie no 26 a e que aquilo devia ter começado fazia um tempo. “Devia ir no dentista mais vezes, sabia?”. Sabia, mas pensei que dentes grandes fossem mais resistentes ao tempo.

Agora sei como se sentiram os animais que eu examinei nas aulas de ciências...

3 comentários:

TARJA PRETA disse...

Oi Gringa!! também acho show seu blog...sempre tô passando por aki e lendo...acabo sempre dando boas risadas... Puxa...falando em dentista...kkkk....lá vamos nós....maratona médica semestral...rssss...beijos!

welze disse...

o detalhe de ter babado por causa do tempo em que ficou com a boca aberta, foi show. conheço esse filme.

Clau disse...

Eu adoro passar por aqui,bjus!!!!

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